Na aula de português...
Querido Luís,
Olha só para ti, todo encharcado! Estás, como sempre, atrasado para a aula de português! O que aconteceu ao teu cabelo, parece diferente, cortaste? Ah, ainda está molhado, porque tomaste banho mesmo antes de vir para a aula.
Sentamo-nos e eu fico a olhar-te deliciada. Esse impermeável vermelho fica-te muito bem, sabes?... O Pedro toca-me no braço direito e eu acordo. De repente, tudo parece normal, mais uma aula, continuamos a analisar a poesia de Cesário Verde... E o Pedro ainda está ao meu lado direito, tu estás mesmo à minha frente e eu posso ver o reflexo do teu rosto na janela. Posso ver também que chove lá fora.
Hoje o dia começou mal... Custou-me a acordar e consegui falhar todos os lançamentos ao cesto, na aula de Educação Física. Isso não seria importante, não fosse eu a melhor jogadora de basquetebol da turma. Dali resultou um sermão da professora; não era admíssivel, mesmo antes do torneio.
Sim, eu respondi às perguntas da página 44. Cesário Verde aproxima-se de Eça de Queirós na utilização do adjectivo, utilizando dupla e tripla adjectivação e variando a sua posição. Exemplos não escrevi, mas posso procurar rapidamente. Tu também trabalhaste a mesma página, não foi? Podes sempre ajudar-me! Alguém do outro lado da sala começa a desbobinar um sem fim de exemplos que ilustrem a minha resposta e eu calo-me.
Desculpa, esqueci-me dos CDs que me emprestaste! Não trouxeste mochila? Então até calhou bem, já que não te dava muito jeito, mas desculpa na mesma. Amanhã trago-te sem falta!
O Pedro faz-me cócegas e eu lanço-lhe um olhar de quem não está a gostar da brincadeira. Vou tentar prestar atenção à aula.
A professora dispensa-nos. Segues para a secretaria. Eu vou guardar a mochila no cacifo. Preciso de ir à livraria buscar um livro que encomendei. Alguém quer vir comigo? O Pedro tem que ir para o autocarro e tu, Luís, por acaso não precisas de lá ir? Não, mas precisas de ir para casa estudar. Tens aula de piano mais tarde. Então eu vou lá sozinha, também não é longe.
Pelo caminho encontro gente estranha, sentada à porta de um prédio. Não sei o que fazem ali, talvez seja alguma reunião, não faço ideia. Sou rapidamente atendida, faço mais duas encomendas e volto para a escola, onde ainda te encontro à conversa com a Rosinha da secretaria. Junto-me a vocês e comigo vêm mais 2 alunos e uma empregada. A Rosinha jura que nunca te conheceu nenhuma namorada, na verdade, ninguém te conheceu nenhuma namorada. A mim não me parece estranho, sei bem da tua paixoneta pela Isabel Cristina, no 10º ano. Mas na verdade, nunca te imaginaria com ela...
Vou então apanhar o meu autocarro. Tu vais para casa estudar.
Até amanhã, Luís.
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