Mais um dia normal...
Querido Luís,
Acordo para mais um dia, mais um dia normal. Um dia como os outros.
Perco o autocarro e chego atrasada à aula de inglês. A reacção da professora é a do costume, uma reacção normal. Aceita o meu pedido de desculpas e continua a trabalhar, a ensinar como quem passa o dia a escrever em qualquer espécie de teclado, com o olhar preso num monitor, que neste caso é o livro. Ao menos isso, sempre tem as folhas de papel para virar... Passam 10 minutos e eu ainda não me sinto suficientemente concentrada na matéria sobre os nativos americanos. A minha cabeça está um lugar atrás e volta e meia também o meu olhar se desvia nesse sentido.
Nota-se perfeitamente que não gostas de utilizar guarda-chuva, tal como ontem, estás encharcado. Pergunto-te se me trouxeste o que eu te pedi e tu respondes afirmativamente com uma piada qualquer de bom gosto. E, de resto, já me fizeste habituar às tuas piadas e mesmo participar nelas. Sempre me agradou o bom humor das pessoas. Em ti há muitas outras coisas que me agradam.
Presto um pouco de atenção à professora que se queixa sobre os anos que ainda terá que esperar pela reforma. O tempo vai passando e nós saímos, finalmente.
Vou ter com o Pedro e questiono-o sobre a possível saída no sábado à noite com o meu grupo de amigos. Ele só quer estar comigo. Não é compreensível que após um ano e meio de namoro ainda não tenhamos um grupo de amigos em comum. Fico um pouco chateada, mas não gosto de fazer fitas.
Os alunos do 10º ano estão à porta da sala onde teremos a próxima aula e uma rapariga magra e tímida pede-me para te apresentar a ela. Eu cedo e tu, como sempre, mostras-te acessível. Tentas quebrar o gelo que é sempre criado neste tipo de situações e eu delicio-me com o teu sorriso maroto e meigo ao mesmo tempo.
A disciplina de Físico-Química não me diz nada. O Pedro está entre nós e isso faz-me desligar de tudo, mesmo de ti.
Depois do almoço, temos uma última aula. Nunca gostei de Matemática, mas sempre foi uma aula que passou rápido, talvez por ser a única em que realmente se trabalha. Exercícios, exercícios, mais exercícios.
O Pedro tem que ir embora, tu decides ir até à sala da internet e eu acompanho-te, afinal, tenho que esperar mais de meia-hora pelo autocarro. A nossa conversa é animada. Não, o John não está apaixonado por mim, mas tu insistes nisso. Não digas mais vezes que eu estou a brincar com os sentimentos dele, por favor... Somos apenas amigos e nada mais. O facto de ele me achar bonita nada significa.
Vejo-te uma última vez pela janela do autocarro. É pequeno, tenho que ir em pé, mas ver-te só mais uma vez neste dia normal, vale por tudo.
Até mais ver, talvez noutro dia normal.
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