segunda-feira, novembro 15, 2004

Esse brilho és tu

Querido Luís,

Esperei o dia todo por te ver. Como não tivemos aula de português e fomos avisados previamente, decidiste não aparecer na escola. Mas eis que vislumbro a manga esquerda do teu casaco e seguidamente toda a tua figura, como uma aparição. Pensei mesmo que só amanhã ia poder contar-te as últimas novidades. Fui convocada para um torneio com aquela equipa para a qual entrei há poucos dias. Vi o Farenheit 9/11 e tu devias ver também, já que te revolta da mesma maneira que a mim as políticas do presidente dos EUA e a forma como o nosso governo se aliou a elas.

Estás particularmente calmo. Onde teria lugar uma vírgula ou ponto final, caso escrevesses o que falas, colocas um sorriso. Acabas por explicar que estás cansado, porque foste à piscina e porque não estiveste em casa durante o fim-de-semana.

Já perdi o autocarro, portanto vou ter que esperar pelo próximo. Infelizmente, não podes ficar comigo.

Sabes, tenho a sensação de que uma parte de mim gostaria de poder tirar-te do meu peito, talvez por esta incapacidade de aceitar que a minha relação com o Pedro deixou de fazer sentido há muito. A outra parte não permite que eu me sinta mal contigo, faz o meu coração saltar a cada sílaba que articulas, a cada fio de cabelo teu que ondula por força do vento... E sei que é a esta parte que me rendo, porque o meu dia torna-se mais claro quando abro a janela do meu coração, por onde entra o brilho que o ilumina, e esse brilho és tu.