sexta-feira, dezembro 17, 2004

No auditório da academia

Querido Luís,

Ao entrar na academia, ouço logo o piano do auditório. Enquanto converso com alguns colegas, presto atenção à música que vem de lá e associo-a imediatamente a ti. Ainda pergunto a quem está comigo no corredor se sabem quem é e faço a minha aposta. Vou até à porta da academia, saio, volto a entrar e decido-me a espreitar sorrateiramente o auditório. Rodo a maçaneta com cautela, para o caso de estar redondamente enganada e ser algum professor ou outro aluno qualquer - que, diga-se de passagem, teria que tocar muito bem. Nesse caso, alego estar só a ver se há por ali alguma estante. Não faço barulho nenhum e, através de uma frinchinha, consigo reconhecer a tua camisola às riscas e a tua postura inconfundível. Não demoras nada a dar pela minha presença e eu questiono-te sem esperar resposta: "Como é que eu sabia que eras tu?!"

Não te mostras incomodado pela minha invasão. Mesmo assim, não tardo a virar as costas para te deixar estudar para a audição de amanhã, mas tu interpelas-me com um convite para ir ao cinema dentro de uma hora. Quem me dera poder ir! Mas vou ter aula de violoncelo. A dada altura, aproximo-me do piano e pouso a cabeça em cima dele, apoiada nos meus braços. Dá-se então um instante mágico quando sorris para mim, sem que eu saiba exactamente porquê, e eu dou por preenchido o meu dia. Já de saída, peço-te para tocar qualquer coisa para mim. Primeiro negas, mas acabas por me ceder uma Sarabande de uma Suite de Bach, sem que eu tenha que insistir.

Agora, sim, vou-me embora e deixo-te a estudar. Falamos mais tarde ou amanhã depois da audição.

1 Comments:

At 4:00 da tarde, Blogger Ameixinha Verde said...

Oh rapariga.... e tu com dúvidas... ai, ai... eu sei, eu sei, quando somos nós temos sempre dúvidas.

 

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