terça-feira, novembro 23, 2004

Só te peço um pouco de atenção

Querido Luís,

Estás tão estranho! Noto logo que chegas à escola e me olhas de alto a baixo, em silêncio. Quebro o gelo com um cumprimento qualquer ao qual respondes. Deixo-me ficar mais um pouco na secretaria, à conversa com a Rosinha e tu vais andando para a aula. Não tardo muito a seguir-te.

Técnicas Laboratoriais de Química, a disciplina que me oferece uma proximidade física de ti única: a tua mesa é a minha mesa. Os nossos cadernos estão praticamente colados, as nossas mãos aproximam-se com frequência, o teu perfume e o teu calor atingem-me com uma intensidade desnorteante. Mas hoje estás diferente. Pouco falas, pouco brincas, permaneces quase imóvel e a tua cabeça raramente se vira para a tua esquerda, onde estaria eu a tentar não mostrar a agitação interior que me provocas.

Na biblioteca, escolhes um livro para mim, a meu pedido. Na sala dos computadores, dás-me permissão para utilizar a tua sessão para verificar a caixa de correio electrónico. E manténs de mim uma distância que não é usual. Falas-me, contas-me uma ou duas novidades, mas tudo de uma forma tão indiferente... Sem ti, sem o Luís que me encanta ao entoar um singelo e quase inaudível "olá", abre-se dentro de mim um espaço vazio, escuro, revestido por paredes frias que me congelam a alma.

Entristece-me tanto quando não consigo entrar no teu mundo... Peço-te, não mates cruelmente a nossa cumplicidade e eu sentir-me-ei satisfeita apenas por poder sentir o meu sangue a circular mais depressa sempre que apareceres na minha vida. Dá-me só um pouco de atenção e eu retribuir-te-ei com toda a minha dedicação.