quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Adeus

Querido Luís,

Despeço-me de ti, porque te amo demais e não consigo atingir-te. Sei que é tão difícil para mim como para ti, mas foi a única forma que encontrei para manter vivo o sentimento mais bonito que já experimentei. Contigo partilhei os melhores momentos da minha vida e nunca me vou separar dessas recordações.

Vou levar-te para onde for, vou levar-te com quem for. Vou contar a nossa história ao mundo, vou sorrir de orelha a orelha todas as vezes que me lembrar dos nossos passeios de Inverno. Vou rir-me sozinha das nossas piadas e deliciar-me a ouvir-te tocar.

Desculpa-me por não aguentar a tua forma de amar. Ainda espero que o futuro reserve um cantinho para o nosso amor.

Serei tua sempre e para sempre.

sábado, janeiro 15, 2005

Surpresa!

Pronto!

A pedido de várias famílias, mas também por necessidade própria, decidi começar a escrever um novo blog. Não incide sobre nenhum assunto em particular e chama-se Diz a Miúda.

Para quem quiser visitar o dito cujo, o endereço é http://dizamiuda.blogspot.com .




sábado, janeiro 01, 2005

Mensagem de Ano Novo

Queridos visitantes deste meu diário,

A minha mensagem é escrita no primeiro dia deste ano 2005, mas não é a este ano que devo começar por me referir.

O que eu pretendo é agradecer-vos, porque foi a vós que eu contei o meu segredo, porque foram vocês os primeiros a descobrir-me, a conhecer o amor que eu carregava silenciosamente dentro do meu peito, porque foi a vós que eu abri pela primeira vez as portas do meu mundo. A todos vocês que me acarinharam com mensagens de alento, muito obrigada.

O Luís e eu estamos agora juntos e felizes. Deixou, portanto, de fazer sentido continuar a escrever este Diário de um Amor Platónico. Vou sentir saudades... Mas agora posso dizer ao Luís tudo aquilo que até aqui escrevia nas páginas de um blog. Estou feliz! Estou muito feliz e muito apaixonada, e o que vos desejo para este novo ano é que também vocês encontrem a felicidade de amar, porque o amor transforma a vida.


quarta-feira, dezembro 22, 2004

Não me quero despedir de ti

Querido Luís,

Obrigada pela ajuda que me deste com as compras de Natal. Obrigada pelo lindo porta-chaves que me ofereceste. Obrigada por mais um dia em que pude contar com a tua companhia.

Sentamo-nos ao pé da paragem onde eu tenho que esperar pelo autocarro. Está frio, muito frio. Quero agarrar-te uma das mãos, mas procuro desviar o meu pensamento dessa vontade. O céu está com uma cor linda. O sol já desapareceu quase completamente e as ruas já estão todas iluminadas. As silhuetas das árvores transformam-se num espectáculo único. Não partilho todas estas sensações contigo, a minha única intenção é esquecer-me de que daqui a nada tenho que te dizer adeus.

O autocarro pára e eu fico no fim da fila para entrar, que não é muito longa. Dois beijos no rosto, um bom Natal e até para a semana. Sinto-me como se tivesse prestes a viajar para muito longe, sinto-me como se nunca mais te fosse voltar a ver e, no entanto, sei que daqui a quatro dias vou estar contigo outra vez. Não percebo o porquê desta angústia. Ao menos, sei que, vá para onde for, uma parte de ti viaja sempre no meu coração que agora está tão apertadinho dentro do meu peito.

Fecho os olhos durante quase todo o caminho até casa e desenho-te ao meu lado. Nunca fujas de dentro de mim...

Calada

Querido Luís,

Não tens que ficar comigo no bar só porque não me apetece ir com toda a gente para o salão de jogos. Mas ficas. E isso aquece-me o espírito. A conversa vai durando, mas o assunto esgota-se e implanta-se entre nós um silêncio, apenas evitado pela música que continua a sair pela coluna situada quase por cima das nossas cabeças.

Gostaria de poder dizer-te que acordei ansiosa por te ver, gostaria de poder contar-te o deslumbramento que se apoderou de mim quando os nossos olhares se encontraram pela primeira vez neste dia que já vai longo. Gostaria de poder falar-te do meu entusiasmo por termos ido almoçar juntos, por termos passado uma boa parte da tarde juntos e por te teres deixado ficar aqui só comigo, em vez de teres ido com os outros. Gostaria de poder confessar-te que mais ninguém me faz sentir assim, que cada sorriso teu se torna a imagem mais gratificante do meu dia, que muitas vezes me apetece roubar-te um beijo e prender-te num abraço apertado.

Fico calada, como se a música de fundo estivesse a agradar algum de nós. Fico calada, por qualquer razão para a qual não há uma palavra certa. Não fico bem, nem fico mal. Fico apenas assim. Calada.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

No comboio

Querido Luís,

Estamos quase em casa. Ao mesmo tempo que vejo mexer a boca do senhor que se sentou à nossa beira no comboio, recordo a tarde que passamos juntos. Tinha pensado ir ver o concerto só contigo, mas apareceu na estação o Helder do 11º ano, que por coincidência tinha os mesmos planos que nós. Confesso que fiquei um pouco desiludida por perder a oportunidade de passar tanto tempo - que, no fundo, me parece tão pouco - sozinha contigo. Mas o Helder é muito boa pessoa e nunca está a mais!

O concerto começou com um atraso significativo, porque o maestro pensou que estava marcado para a noite! Valeu a pena esperar e perder o comboio no qual tínhamos planeado voltar, porque foi um óptimo espectáculo.

Apercebo-me de que o senhor parou de falar e espero que não seja suposto eu responder, embora tenha ideia do assunto pouco interessante que abordávamos. Aliás, que ele abordava sozinho! Volta e meia, ele lá se mete na nossa conversa, mas eu vou tentando rodar a cabeça para a esquerda, onde estás tu e o Helder, a ver se o homem se apercebe que está a meter o nariz onde não é chamado.

De repente, o Helder lembra-se que não tirou bilhete! Levanta-se para ir resolver o problema com o revisor e eu aproveito para me chegar um lugar para a esquerda, de forma a ficar mesmo em frente a ti. Lá foi resolvido da melhor forma a questão do bilhete e a viagem continua. Uma miúda pequena começa a puxar-nos para a brincadeira. É mesmo daquele tipo de crianças que quase não suporto! Desobediente, insistente, até um pouco mal-educada. A dada altura, passo a ignorar. Não faz diferença, temos que sair na próxima estação.

Sei que vou para casa com uma convicção que já tinha: és uma companhia formidável para tudo!

sábado, dezembro 18, 2004

A audição

Querido Luís,

Tu não tomas horas?!? Eu que não vou tocar consegui chegar primeiro que tu! Sabes que estou só a brincar, mas não há nada como a boa disposição antes de começar uma audição!

O professor de piano faz um aviso para os menos frequentadores deste tipo de eventos, que apela ao silêncio e ao cuidado para não se bater palmas entre andamentos. Um nervoso miudinho apodera-se do meu peito, mas é acalmado pelo simpático Luís - aluno do preparatório - que interpreta uma "Dança dos Índios" e o "Balão do João". A seguir és tu. Conheço de cor o teu gesto ao entrar em palco, ao fazer a vénia da praxe, ao sentar no banco do piano. Soltas então a tua suite de Bach, que só é importunada pelo ranger incomodativo do banco! Mas eu abstraio-me desse ruído inoportuno com bastante facilidade, porque o que me cativa realmente é a música. Outros alunos tocam depois de ti, e alguns deles até muito bem! Para todos os efeitos, quando voltas a fazer soar as cordas do piano, transformo-me sem querer. Chopin, Liszt e Rachmaninov pelas tuas mãos! Não há nada mais encantador! As pessoas faladoras calam-se, as crianças já não deixam cair no chão os brinquedos, tudo pára. Ou talvez não pare realmente, talvez continue a haver gente a falar e brinquedos a cair estrondosamente no chão, mas eu só consigo ver-te e ouvir as peças que interpretas, mais nada. É exactamente como quando não há mais ninguém a assistir, quando tocas só para mim, só para mim...

Ainda me acompanhas ao café, enquanto espero que o meu pai me vá buscar e fazes questão de me pagar um sumo. Eu nunca permitiria, se não me tivesses roubado o talão! Mas agrada-me a intenção.

E se viesses comigo amanhã ver um concerto?... Não é que vais mesmo?! Se a felicidade se revelasse num salto, eu teria ido até à Lua!

sexta-feira, dezembro 17, 2004

No auditório da academia

Querido Luís,

Ao entrar na academia, ouço logo o piano do auditório. Enquanto converso com alguns colegas, presto atenção à música que vem de lá e associo-a imediatamente a ti. Ainda pergunto a quem está comigo no corredor se sabem quem é e faço a minha aposta. Vou até à porta da academia, saio, volto a entrar e decido-me a espreitar sorrateiramente o auditório. Rodo a maçaneta com cautela, para o caso de estar redondamente enganada e ser algum professor ou outro aluno qualquer - que, diga-se de passagem, teria que tocar muito bem. Nesse caso, alego estar só a ver se há por ali alguma estante. Não faço barulho nenhum e, através de uma frinchinha, consigo reconhecer a tua camisola às riscas e a tua postura inconfundível. Não demoras nada a dar pela minha presença e eu questiono-te sem esperar resposta: "Como é que eu sabia que eras tu?!"

Não te mostras incomodado pela minha invasão. Mesmo assim, não tardo a virar as costas para te deixar estudar para a audição de amanhã, mas tu interpelas-me com um convite para ir ao cinema dentro de uma hora. Quem me dera poder ir! Mas vou ter aula de violoncelo. A dada altura, aproximo-me do piano e pouso a cabeça em cima dele, apoiada nos meus braços. Dá-se então um instante mágico quando sorris para mim, sem que eu saiba exactamente porquê, e eu dou por preenchido o meu dia. Já de saída, peço-te para tocar qualquer coisa para mim. Primeiro negas, mas acabas por me ceder uma Sarabande de uma Suite de Bach, sem que eu tenha que insistir.

Agora, sim, vou-me embora e deixo-te a estudar. Falamos mais tarde ou amanhã depois da audição.