terça-feira, novembro 30, 2004

Quem sabe...

Querido Luís,

Passei a aula inteira nas nuvens. Quer estivesses parado como uma estátua, quer te movimentasses activamente, o meu olhar perseguia-te. Sem saber porquê, tinha uma vontade incrível de ter a tua cabeça deitada no meu colo só para poder enroscar nos meus dedos cada madeixa do teu cabelo e afagá-lo carinhosamente.

Desta vez, não descemos as escadas juntos. Apresso-me a abandonar a sala, de forma a tentar limpar a cabeça destes sonhos que me transportam para uma outra dimensão, onde tudo é perfeito. Quando pouso o primeiro pé no rés-do-chão, já me encontro novamente no planeta Terra. Dirijo-me até à biblioteca para voltar a requisitar uns livros e cruzo-me contigo à saída. Mostras-me uma mensagem da Ana Rita, que mantém a paixoneta por ti, à qual respondeste pedindo para ela te ligar! Que lata! Se fosse eu, não te ligava, ia sentir-me ignorada! E são exactamente estas palavras que articulo, sílaba por sílaba. "Mas tu não estás apaixonada por mim!... ou estás?" Por momentos, engulo em seco. Murmuro um "quem sabe...!" entre risinhos que disfarçam o meu embaraço. Levas claramente na brincadeira.

Mal sabes, Luís, como estou apaixonada por ti. Não é uma paixoneta de menina infantil por um rapaz com boa aparência. A tua beleza exterior apareceu diante de mim a partir do momento em que descobri a que existe dentro de ti. Esta paixão faz de mim uma pessoa diferente desde que a percebi, faz-me aproveitar os pequenos prazeres da vida, faz-me crescer. Tu fazes-me sentir realmente grande, enorme até, quando me elogias com a sinceridade que poderia ser o teu último nome. E essa sinceridade está também presente naquilo que eu sinto por ti.

Quem sabe... Quem sabe se um dia não poderei partilhar tudo isso contigo...

segunda-feira, novembro 29, 2004

Segunda-feira

Querido Luís,

A professora de Português está bastante atrasada. Consciente de que ela ainda virá, pelo simples facto de não nos ter sido comunicado nada em contrário, toda a turma se mantém perto da sala de aula. Tu ainda não chegaste. Entretenho-me à conversa com o Renato e o Tiago e finjo que não te vejo passar o portão da escola, até te misturares connosco. De qualquer maneira, espero até entrarmos na sala para te cumprimentar. Fernando Pessoa ortónimo é o escritor que estamos a abordar. É distribuída uma ficha para resolvermos. Apenas um exercício para treinarmos a interpretação de um poema. Pouco depois, ouço-te discutir uma pergunta em surdina com a Mariana. A professora também e fica furiosa! Ordena-te que páres de brincar e passa logo um sermão a toda a gente, demonstrando o seu desagrado pelo desinteresse que revelamos pela disciplina, o que, segundo ela, já se reflectiu nos testes sobre Cesário Verde. Considero espantosa a tua reacção: ficas em silêncio, muito calmo, muito quieto e nem sequer tentas defender-te.

Já no intervalo, tenho oportunidade de falar contigo sobre o sucedido e tu não te mostras minimamente indignado, mas apenas apreensivo em relação à nota do teste, que ainda não recebemos. Estamos no mesmo barco! Também eu pensei que me tinha corrido bem essa avaliação e agora fico na expectativa. Vou agora ter com a Rosinha para a pôr ao corrente da situação e para saber se está tudo bem com ela. A Rosinha não é apenas a secretária da escola. É uma amiga e, por vezes, até uma confidente. Sigo para a sala da internet, onde sei que te vou encontrar. E lá estás tu, de pé, esperando a tua vez para utilizar um computador. Verifico que hoje estás especialmente elegante, com um casaco castanho que realça a tua postura firme e desinibida. Lá conseguimos um computador para cada um. Espreito o meu correio electrónico e encontro uma mensagem do Anthony, um inglês que conheci numa competição de trampolins, em que participei como voluntária. Não tenho tempo para lhe responder, por isso, passo à frente. No meio de algum "lixo", encontro um mail que me faz rir às gargalhadas! Alguns colegas juntam-se à minha volta e cria-se ali um ambiente descontraído. Olho para o relógio e lembro-me que ainda tenho que levantar dinheiro antes de apanhar o autocarro.

Ainda me vou despedir da Rosinha e buscar as minhas coisas ao cacifo. Quando estou a chegar ao portão, vejo-te a sair da escola e corro para te apanhar. Pedes-me para te dizer que vou na mesma direcção que tu e vou mesmo... mas só até ao multibanco mais próximo, que fica a cerca de 15 metros! Essa curta distância ainda nos permite trocar umas piadas e uns sorrisos. No multibanco, imploro calada à pessoa que está à minha frente para se fazer demorar, enquanto observo os teus movimentos ao atravessar a rua, até desapareceres por trás de um edifício qualquer, que não devia estar lá.

sábado, novembro 27, 2004

O concerto

Querido Luís,

Esta noite é diferente. É noite de espectáculo. Um Requiem se fará ouvir numa fantástica sala de concertos. Já deu a última chamada e eu começo a ficar nervosa ao verificar que o lugar à minha esquerda continua vazio. É o teu lugar, a cadeira tem uma inscrição com o número que corresponde ao do teu bilhete. O teu atraso surpreende-me. És, normalmente, um exemplo de pontualidade nestas ocasiões. Vejo ao longe uma cara conhecida a quem aceno. É a Lúcia da nossa turma. E ela traz-me notícias tuas. Pelos vistos, ficaste à minha espera lá fora, o que é estranho, uma vez que não combinámos nada. A orquestra está prestes a entrar, está na hora! Apresso-me a pegar no telemóvel para te avisar que já estou cá dentro. E pouco espero até te sentares ao meu lado.

Baixam as luzes por cima da plateia e o palco torna-se o centro de todas as atenções. Até ao intervalo, faz-se ouvir uma sinfonia que considero lindíssima. Estou quase completamente concentrada nela, apenas me distrai a tua respiração. Permanecemos sentados durante o intervalo e eu aproveito para trocar contigo algumas palavras, receptiva ao calor e ao cheiro que emana o teu corpo.

O coro começa a subir para o estrado em cima do palco, depois vêm os músicos da orquestra e, finalmente, o maestro. O Requiem é muito forte. Contém harmonias que realmente despertam no ouvinte mais atento todo o significado de uma morte. É extremamente compenetrante. Durante o Sanctus, peço-te para ver o programa e, ao passá-lo, as nossas mãos tocam-se, criando em mim a vontade de prender a tua, para não a soltar até ao fim do concerto. Mas limito-me a puxar o livrinho para o meu colo para ler o nome dos solistas.

Lá arranjaste boleia de alguém e não precisas que a minha mãe te leve a casa. É pena...!

quarta-feira, novembro 24, 2004

As praias desertas

Querido Luís,

"As praias desertas continuam esperando por nós dois." Assim começa a música que fizeste questão de me recomendar, música essa que se inclui no CD que me emprestaste, sem que eu to tivesse pedido.

"Porque tudo na vida há-de ser sempre assim, se eu gosto de você e você gosta de mim." Serás capaz de imaginar tudo o que esta melodia relaxante e enternecedora me sugere? Será que algum dia te transportarás, assim como eu, para dentro dela?

Quanto tempo continuarão as praias desertas à nossa espera?
Quanto tempo mais terei que esperar para que gostes de mim, como eu gosto de ti?...

terça-feira, novembro 23, 2004

Só te peço um pouco de atenção

Querido Luís,

Estás tão estranho! Noto logo que chegas à escola e me olhas de alto a baixo, em silêncio. Quebro o gelo com um cumprimento qualquer ao qual respondes. Deixo-me ficar mais um pouco na secretaria, à conversa com a Rosinha e tu vais andando para a aula. Não tardo muito a seguir-te.

Técnicas Laboratoriais de Química, a disciplina que me oferece uma proximidade física de ti única: a tua mesa é a minha mesa. Os nossos cadernos estão praticamente colados, as nossas mãos aproximam-se com frequência, o teu perfume e o teu calor atingem-me com uma intensidade desnorteante. Mas hoje estás diferente. Pouco falas, pouco brincas, permaneces quase imóvel e a tua cabeça raramente se vira para a tua esquerda, onde estaria eu a tentar não mostrar a agitação interior que me provocas.

Na biblioteca, escolhes um livro para mim, a meu pedido. Na sala dos computadores, dás-me permissão para utilizar a tua sessão para verificar a caixa de correio electrónico. E manténs de mim uma distância que não é usual. Falas-me, contas-me uma ou duas novidades, mas tudo de uma forma tão indiferente... Sem ti, sem o Luís que me encanta ao entoar um singelo e quase inaudível "olá", abre-se dentro de mim um espaço vazio, escuro, revestido por paredes frias que me congelam a alma.

Entristece-me tanto quando não consigo entrar no teu mundo... Peço-te, não mates cruelmente a nossa cumplicidade e eu sentir-me-ei satisfeita apenas por poder sentir o meu sangue a circular mais depressa sempre que apareceres na minha vida. Dá-me só um pouco de atenção e eu retribuir-te-ei com toda a minha dedicação.

O amor deixa-me assim

Querido Luís,

A tua reacção à notícia do fim do meu namoro não é, de longe, a que eu esperava. Temia que me perguntasses porquê, na tua pose inabalável, sem mostrar qualquer vestígio de ansiedade. Mas permaneces em pé, de olhos postos em mim, e escapa-te um sorriso algo nervoso de quem já previa o que eu tinha a comunicar, receando ter cometido um erro ao perguntar por que é que o Pedro trocara de lugar na aula de Português. "Lamento", é a única palavra que pronuncias. Faço um esforço enorme para me conter e não deixar transparecer que eu não lamento. Antes pelo contrário, respiro de alívio pela legitimidade com que posso absorver-te agora.

Tens que ir a casa, mas voltarás mais tarde. O teu "até logo" demonstra que pensas encontrar-me quando voltares, mas eu já não estarei na escola. Não tenho a certeza se a tua expressão é de desilusão, surpresa ou conformidade, mas qualquer uma das três traduz o que eu, através da imaginação própria de qualquer apaixonada, considero como uma certa vontade tua de me ver outra vez.

O autocarro vai cheio e a conversa animada de um grupo de senhores e senhoras na última fase da vida faz as delícias da minha viagem. O sol vai desaparecendo por detrás das casinhas em cima da estrada, deixando um rasto de nuvens coloridas e eu não me inibo de sorrir largamente a essa paisagem. O amor deixa-me assim...

domingo, novembro 21, 2004

Mudei a minha vida

Querido Luís,

É sempre difícil fazer uma despedida. Nunca sabemos muito bem o que dizer, nem mesmo o que se passa dentro de nós, não conseguindo distinguir os bons e o maus sentimento.

Entro no carro do Pedro destinada a acabar a conversa de ontem. Sei que não lhe posso mentir, mas também sei que contar toda a verdade seria arruinar todas as hipóteses de mantermos uma relação minimamente amigável.

"Eu quero acabar contigo". Quero mesmo. Quero, por ti, Luís. O Pedro não sabe disso, nem eu lhe conto. Digo-lhe apenas que deixei de me sentir bem com ele. E não estou a mentir. Parte-me o coração adivinhar-lhe uma lágrima no canto do olho, mas move-se em mim uma forte esperança para que ele venha a compreender que tudo o que passámos juntos ficará gravado na minha memória com muito carinho, para que ele me conceda o seu perdão um dia, para que ele não se arrependa do que nos aconteceu.

Luís, mudei a minha vida. Sou agora inteiramente livre. Ou melhor, sou agora inteiramente presa. A ti, só a ti. E saio do carro com a sensação estranha de me ter libertado da corda que me amarrava o pescoço, mesmo sabendo que outra forma um nó dentro do meu peito cada vez que a tua imagem se torna nítida no meu pensamento e o teu nome ecoa insistentemente nos meus ouvidos.

sexta-feira, novembro 19, 2004

Tu és o meu Sol

Querido Luís,

O sol nasceu e brilha agora lá no céu, prometendo um dia luminoso. A mim, a luz só atingirá no momento em que te vir. Por isso, espero... Espero com ânsia e agitação, que fazem vibrar levemente e de forma algo sombria cada gota de sangue do meu corpo. Tenho a necessidade de respirar fundo cada vez que relembro a tua imagem. Posso até ouvir o meu coração bater mais forte a cada minuto.

Luís, preciso de ti. Preciso que sejas a minha aurora, que me tires da escuridão em que me encontro. Entra na minha vida e não saias nunca mais, então saberei que o meu Sol não se voltará a pôr...

quarta-feira, novembro 17, 2004

Não deixes morrer o meu sonho

Querido Luís,

Encontro-me sentada, imóvel, num banco de corredor, mesmo em frente à sala onde tocas um estudo de Liszt. Se tivesse o poder de prolongar para sempre um momento, era bem capaz de escolher este. A porta é a única coisa que nos separa, mas não consegue impedir a música de me trazer um bom pedaço de ti. Porque, sem que te apercebas, cada nota que produzes no piano traduz toda a tua grandiosidade, a tua sensibilidade e a tua força. Consigo perceber-te, consigo descodificar-te. Consigo sentir-te como se um abraço nos unisse.

Toca, Luís, toca...! Não pares, por favor. Não deixes morrer este meu sonho de te ter...

terça-feira, novembro 16, 2004

A magia com que me transformas

Querido Luís,
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O sol já se pôs e eu continuo aqui na escola à espera da mãe da Ana Rita do 10º ano, que me ofereceu boleia para casa. É muito melhor do que andar de autocarro, por isso, nem custa assim muito, o problema é o frio que se faz sentir ultimamente. A Ana Rita acabou de me contar que está apaixonada por ti desde o dia em que te viu, quando se veio matricular. Eu já sabia, fui eu que vos apresentei e ela nunca conseguiu esconder o histerismo típico de miúda de 15 anos que sente uma paixoneta por um rapaz mais velho. Dou-me bem com ela. É algo infantil, ingénua, o que até lhe dá um certo ar de graça. Ela pede à Filipa, uma amiga dela, também muito querida, para fazer uma chamada do telemóvel dela. A Filipa recusa o pedido, mas eu, sabendo que o destinatário és tu e compreendendo a ânsia dela, decido emprestar-lhe o meu.
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Tendo já passado algum tempo, aproximo-me dela e ouço-a explicar que não pode demorar muito, porque "a pessoa" que lhe permitiu utilizar o telemóvel está "aqui ao alto". Rio-me e solto um "olá" que considero audível do outro lado da linha. Não me reconheces, eu estranho. Continuo a tentar fazer-me ouvir e começo a perceber que ficas intrigado. Agarro no aparelho com permissão da Ana Rita e pergunto-te, indignada, se continuas sem me reconhecer. Ah! Agora sabes quem sou! Nunca te passou pela cabeça que eu, conhecendo perfeitamente o teu desinteresse por ela, lhe fosse ceder uma ligação do meu cartão pobrezinho para ti. Não te mostras aborrecido e aproveitas para falar comigo um bocadinho antes de desligares. Encho-me de alegria só por poder ouvir a tua voz de novo, só para mim, sem mais ninguém a ouvi-la!
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É mágica a forma como me transformas!...

segunda-feira, novembro 15, 2004

Esse brilho és tu

Querido Luís,

Esperei o dia todo por te ver. Como não tivemos aula de português e fomos avisados previamente, decidiste não aparecer na escola. Mas eis que vislumbro a manga esquerda do teu casaco e seguidamente toda a tua figura, como uma aparição. Pensei mesmo que só amanhã ia poder contar-te as últimas novidades. Fui convocada para um torneio com aquela equipa para a qual entrei há poucos dias. Vi o Farenheit 9/11 e tu devias ver também, já que te revolta da mesma maneira que a mim as políticas do presidente dos EUA e a forma como o nosso governo se aliou a elas.

Estás particularmente calmo. Onde teria lugar uma vírgula ou ponto final, caso escrevesses o que falas, colocas um sorriso. Acabas por explicar que estás cansado, porque foste à piscina e porque não estiveste em casa durante o fim-de-semana.

Já perdi o autocarro, portanto vou ter que esperar pelo próximo. Infelizmente, não podes ficar comigo.

Sabes, tenho a sensação de que uma parte de mim gostaria de poder tirar-te do meu peito, talvez por esta incapacidade de aceitar que a minha relação com o Pedro deixou de fazer sentido há muito. A outra parte não permite que eu me sinta mal contigo, faz o meu coração saltar a cada sílaba que articulas, a cada fio de cabelo teu que ondula por força do vento... E sei que é a esta parte que me rendo, porque o meu dia torna-se mais claro quando abro a janela do meu coração, por onde entra o brilho que o ilumina, e esse brilho és tu.

quinta-feira, novembro 11, 2004

Coisas que nos mudam o dia

Querido Luís,

Chego à escola desanimada. Por duas razões. Primeiro, porque, por vezes, é muito difícil controlar os nossos sentimentos, as nossas vontades. E ontem apeteceu-me que te tivesses despedido de mim de outra forma, menos distante, menos vulgar. Mas tu apenas articulaste um "até amanhã" que chegou para mim e para todos à minha volta. Normalmente, lido bem com isso, até porque sei que, para ti, não sou igual aos outros. Sou tua amiga e companheira, confias em mim e isso faz-me sentir orgulho. Só que nem sempre consigo esconder de mim própria que não suporto ser tratada por ti em pé de igualdade com os que me rodeiam, mesmo que seja só quando, de facto, tem que ser. A outra razão é esta espera interminável por uma resposta da parte de uma equipa de basquetebol. Fui fazer uma prova há mais de duas semanas e, depois de inclusivé ter mandado um mail a pedir informações, continuo sem obter resposta.

Quando entras na sala, eu hesito em levantar a cabeça, mas não sou capaz de deixar de ver como vens vestido, como está o teu cabelo e como te mostras bem disposto, o que, aliás, é uma marca da tua personalidade.

A seguir, temos aula por turnos e tu não és do meu. Durante o intervalo, desloco-me até à biblioteca e peço para usar o computador para mandar um mail, decido insistir. Aguardo um pouco enquanto troco algumas palavras com uns alunos do 10º ano. Volto a verificar a minha caixa de correio electrónico e encontro uma mensagem nova. O endereço é o da equipa. Finalmente recebo notícias! Boas notícias! Fui aceite!!! Corro pelos corredores eufórica e encontro-te numa sala a estudar ou a fazer algum trabalho de casa, talvez. Pareces radiante, quase tão contente como eu! E dás-me um beijo em cada face. Apetece-me abraçar-te, mas contenho-me. És a primeira pessoa a saber e nem eu quereria que fosse outra.

É fantástico como estas coisas podem mudar o rumo do nosso dia!

terça-feira, novembro 09, 2004

Como é bom estar contigo...

Querido Luís,

Que desapontamento entrar na sala e perceber que me usurparam o lugar! Temos uma aluna nova na turma, por isso, quase toda a gente teve que proceder a algumas alterações. Infelizmente, aconteceu na única disciplina em que ocupamos a mesma mesa. Chegas um pouco mais tarde do que eu e mostras-te surpreendido, mas sentas-te rapidamente atrás de mim.

Tudo é um pretexto para me virar para trás e falar contigo. Tivemos que fazer um trabalho de casa extra e agora devemos apresentá-lo. Corre tudo bem, hoje não me consigo distrair com nada, tenho a cabeça a funcionar a cem por cento.

Amanhã temos uma aula de expressão corporal, que o grupo de professores de Educação Física nos resolveu oferecer. Como há muitos inscritos, foram criados vários turnos e eu não calhei no teu. Fui à secretaria e inventei um bom argumento para a Rosinha me transferir para o teu. Conto-to isto agora, mas já o sei há mais tempo. Pareces satisfeito. Agrada-me esta nossa amizade e dou tudo para nunca a perder.

No final da aula, ficamos mais um pouco a conversar com a professora, que é uma pessoa muitíssimo acessível, juntamente com outros dois ou três colegas. Chamas-me à parte para me transmitir qualquer coisa que eu deixo de ouvir a partir do momento em que entro no teu mundo através do brilho do teu olhar e das ondas sonoras que emite a tua voz. Descubro dentro de ti uma simplicidade que me faz sentir uma paz, um sossego... E sinto-me bem, sinto-me muito bem.

Como é bom estar contigo...

segunda-feira, novembro 08, 2004

Depois de um fim-de-semana

Querido Luís,

Cada fim-de-semana é para mim um devaneio. Tremo só de pensar que na segunda-feira podes estar diferente, podes não me olhar com a cumplicidade a que me habituaste.

Ao entrar atrasada na sala, procuro-te primeiro a ti e encontro-te sem esforço, pois estás sentado mesmo em frente à porta. Depois espreito à direita para saber se a professora deu pela minha chegada e murmuro um pedido de desculpa. Estás com um ar fantástico, nota-se perfeitamente que aproveitaste bem os dois dias de descanso semanais. Por momentos, sinto-me um trapo comparada contigo, a mais não permite esta constipação que mal me deixa respirar o teu perfume. É aula de revisões e eu esforço-me por prestar atenção, mas é claro que é impossível deixar de observar-te a passar a mão no cabelo, a virar ligeiramente a cabeça para falar com o colega do lado, a pousar categoricamente a esferográfica preta na mesa quando acabas de passar o que está escrito no quadro.

Tens alguma pressa para ir embora, mas eu ainda tenho que me submeter à espera a que se acostuma qualquer utilizador de transportes públicos. Sento-me ao sol num banco perto do portão. Pouco depois, apareces com toda a tua boa disposição e convences-me a acompanhar-te apenas até ao café mais próximo, a menos de cinquenta metros da escola. Conversar contigo, seja de que banalidade for, desperta em mim uma adrenalina que não consigo explicar. Parece que tudo mexe cá dentro. Despedimo-nos, desta vez com um beijo em cada face, e, quando sigo o meu caminho de volta para a escola, apetece-me olhar para trás, mas não o faço por receio de já teres cruzado a esquina, sem que eu te possa ver só mais uma vez...

domingo, novembro 07, 2004

Estrelas

Querido Luís,

As estrelas podem dizer-nos muita coisa. À noite, constituem uma forma de orientação que não deixa que nos percamos. Se o céu está estrelado, significa, geralmente, que no dia seguinte estará sol.

Deitada sobre a areia branca e fria desta praia, contemplo todo aquele manto de pontos luminosos. Comigo estão algumas estrelas da minha vida, os meus amigos.

Deixa-me ser também uma estrela e indicarte-ei, em cada vez que me procures no teu céu, vários rumos a tomar, aconselhando-te, sempre que me peças, qual escolher. Deixa-me ser, para ti, uma estrela e nunca permitirei que o teu céu se torne todo negro, nunca permitirei que a tua vida passe por dias cinzentos, sem um único raio de luz.

Porque tu já és a minha estrela... Quando serei eu a tua?

quarta-feira, novembro 03, 2004

O ensaio

Querido Luís,

Está um dia bastante escuro e chove a potes! Abandonamos juntos a escola em direcção à academia.

O Jaime e o Tiago não tiveram disponibilidade para fazer ensaio connosco neste horário, por isso, a única pessoa que nos espera é a Mariana. Aproveitamos para espreitar uma peça em que tocamos só nós os três.

As tuas mãos passeiam-se pelo teclado do piano e eu esforço-me por me deixar levar pela tua música. Como trabalhamos bem juntos! Tu, eu e, claro, a Mariana! Algo corre mal e temos que parar. Recomeçamos. Recapitulamos. Revemos. Ensaiar é isto mesmo. Levantas-te e aproximas-te de mim para me pedires indicações que tenho escritas na minha partitura. A nossa proximidade física faz com que o meu coração dispare. Adoro sentir como estás à vontade na minha presença.

Acabamos e a Mariana apressa-se para ir almoçar, pois tem pouco tempo. Eu fico a fechar a sala e tu voltas atrás para me perguntar se gosto da peça. Gosto muito, é muito bonita. Descemos juntos as escadas e eu pego-te na mão para comparar a flexibilidade das tuas articulações com a das minhas, a minha irmã diz que ninguém consegue colar tanto a palma dos dedos à palma da mão. De facto, tu também não consegues. A situação faz-nos soltar algumas gargalhadas.

A tua mãe espera-te para almoçar e o Pedro há-de vir ter comigo.

Até logo, Luís.

terça-feira, novembro 02, 2004

É bom saber que amanhã vou estar contigo outra vez

Querido Luís,

Não esperava dar de caras contigo logo ao entrar na escola. Mas cá estás tu, de pé, mesmo à minha frente, ao teu lado está o Jaime. Reclamas por não vos ter cumprimentado com dois beijos na cara, mas eu não cedo e repito o meu "Bom dia!". Sei que não levas a mal, cumprimento sempre assim quando há muita gente à minha volta. É mais simples e demora menos tempo.

Contas-me sobre a actividade de fim-de-semana do teu grupo de jovens e confessas ter tido receio de tocar no assunto por saberes que eu não me estou a sentir bem no meu. A tua preocupação agrada-me, mas é escusada.

Subimos para a aula de TLQ. O Pedro não está no nosso turno e tu sentas-te, como de costume, ao meu lado. Partilhas comigo umas mensagens de uma admiradora do 10º ano que estás farto de aturar. Ela tinha vindo ter comigo a perguntar se tinhas namorada e eu dissera que não sabia. Mostras-te satisfeito com a minha resposta. "Fizeste bem", dizes tu. Eu sei que fiz bem, Luís, conheço-te o suficiente para o saber.

O professor manda-nos resolver um exercício em conjunto. Tu és o parceiro ideal para qualquer pessoa que tenha o mínimo gosto em trabalhar em grupo. És melhor aluno do que eu a TLQ, mas não resolves tudo sozinho esperando que eu apenas acene afirmativamente com a cabeça. É claro que não sabes tudo, também falhas algumas coisas, e eu corrijo o que posso. Durante um segundo, as nossas cabeças levantam-se simultaneamente e os nossos olhares cruzam-se. Durante um segundo, fico assim, quieta e calada, apenas tentando absorver toda a energia, toda a vitalidade que lanças por onde passas. Durante um segundo, regozijo-me pela nossa cumplicidade. Voltamos ao exercício.

Na hora de voltar para casa, já em frente ao portão, combinamos um ensaio de música de câmara na academia, com o Jaime, o Tiago e a Mariana. Será amanhã na hora de almoço. Que bom, mais uma oportunidade para trabalharmos juntos!

É bom saber que amanhã vou estar contigo outra vez...